Com dinheiro de vaquinha, morador de rua que ajudou idosa durante temporal no Rio compra casa

Três meses depois de um gesto de bondade despretensioso ter se espalhado em uma filmagem por todo o país, a história deVarlei Rocha Alves, o Capoeira, teve mais um capítulo.

| FáTIMA NEWS/EXTRA


Capoeira com o seu filho Darlei, de 10 anos Foto: Roberto Moreyra

Três meses depois de um gesto de bondade despretensioso ter se espalhado em uma filmagem por todo o país, a história deVarlei Rocha Alves, o Capoeira, teve mais um capítulo. Morador de rua há 20 anos, o homem ganhou uma casa na Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro, próxima a de familiares com o dinheiro arrecadado em uma vaquinha virtual. A virada de vida veio com a repercussão das imagens que viralizaram (confira o vídeo no fim da reportagem) — ele aparecia improvisando uma passarela para que uma senhora atravessasse a rua em Copacabana durante um forte temporal que atingiu a cidade.

— Existem anjos que me ajudaram. Foi apenas mais um dia de chuva em que eu ajudava as pessoas. Nunca consegui sequer sonhar com algo de tão bom assim na minha vida — comenta Capoeira, contagiante com a felicidade evidente.

A arrecadação tinha como meta inicial conseguir R$ 40 mil, para viabilizar a compra de uma casa. O criador da campanha, Vicente Carvalho, fez tudo à distância e usou da influência digital para impulsionar as redes na corrente do bem. Deu certo. Em apenas três dias o montante chegou a R$ 170 mil — 425% do objetivo.

— Sempre me engajo em causas assim. Ter feito parte disso e ajudar no sonho do Capoeira de ter uma casa para morar com o filho foi incrível — comenta o dono da página Razões Para Acreditar.

A casa de aproximadamente 92 metros quadrados tem dois quartos, uma sala de estar, cozinha americana e começa a ser mobiliada. A porta de entrada dá para o cômodo preferido do filho de Capoeira, o pequeno Darlei de 10 anos. O salão, vazio ainda com apenas um sofá, é perfeito: é o espaço para ele se divertir com brinquedos e a fiel amiga: a bola de futebol.

Da laje, pai e filho brincam e conseguem ver todo a região. Capoeira consegue, inclusive, ver o filho na quadra da escola.

— Agora tenho uma casa. E meu pai consegue me ver na escola daqui — brinca o entusiasmado Darlei.

Já Varlei dá valor a cada centímetro do portão até a janela da cozinha. Ele apresenta o novo lar com o sorriso de orelha a orelha e faz questão de passar a mão por cada textura diferente das paredes — ainda com uma decoração do antigo dono. Deitado na cama que agora ele grita e pode chama de 'minha', Capoeira demonstra pé no chão. Muitos detalhes ainda faltam, mas a suíte já tem armário, uma cama de casal e uma televisão de 50 polegadas.

— Do que adianta ter dinheiro sem fazer o bem? Temos que buscar agir pelos outros com amor. O mesmo carinho que dedico ao meu filho eu tento ter pelas pessoas na rua — disse.

Varlei e Darlei aproveitam o novo espaço para assistir televisão Foto: Roberto Moreyra

Da Pavuna, Capoeira continua a sair todos os dias para pegar o metrô e trabalhar na rua em Copacabana. A rotina do guardador de carros continua, mas a vida já tomou um salto inimaginável. O dinheiro que sobrou da vaquinha ainda será utilizado para uma reforma em alguns pontos da casa e comprar os móveis para o restante dos cômodos. De luxúria, apenas um item, para o filho:

— O garoto quer tanto esse tal de Hoverboard. Então vou dar. Pela primeira vez vou poder cumprir um sonho dele — comemora Capoeira.

Relembre o caso

Naquela noite, Capoeira acabou não conseguindo voltar para a casa da irmã, Claudiene. Por isso, comprou um lanche e dormiu sozinho, molhado e com frio na Rua Viveiros de Castro, onde trabalha guardando carros há mais de 20 anos. Segundo o sistema da prefeitura Alerta Rio, foi registrada a maior chuva dos últimos 22 anos e Copacabana bateu o recorde de acúmulo de água.

Ele sonha em aprender a ler e escrever. Capoeira conta que não teve oportunidade de estudo quando era criança, mas quer recuperar o tempo perdido.

— Gostaria de estudar se alguém pudesse me ajudar. As coisas são mais difíceis porque sou analfabeto. Conciliando com o horário do trabalho, quero aprender.



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