Fake news da taxação faz cartão tomar lugar do Pix no comércio
Relato dos lojistas se dividem, mas maioria garante que público prefere pagar só com cartão
| JéSSICA FERNANDES E CLARA FARIAS / CAMPO GRANDE NEWS
A fake news sobre a taxação do Pix surtiu efeitos na vida de quem trabalha com o comércio no Centro de Campo Grande. Há oito anos, Nilza Kadena, de 72 anos, vende empadas na Rua 14 de Julho e nos últimos dias tem comprado os insumos só no dinheiro após comerciantes a alertarem que as movimentações financeiras no Pix seriam taxadas pelo Governo Federal.
A disseminação de fake news sobre a taxação do Pix impactou negativamente o comércio em Campo Grande, levando comerciantes a mudarem suas práticas de pagamento. Vendedores, como Nilza Kadena, optaram por comprar insumos apenas em dinheiro após ouvirem rumores sobre a taxação, embora a maioria dos clientes continuasse a usar cartões e Pix. A Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou à Polícia Federal a investigação da propagação dessas informações falsas, que resultaram na revogação da medida pela Receita Federal, enfatizando os danos à legitimidade das instituições democráticas e ao Estado de Direito.
A autônoma explica que o comportamento de quem compra as empadas não mudou. O cartão, seja de débito ou crédito, assim como Pix continuaram a ser as formas de pagamento apresentadas dia a dia pelos clientes.
Para Nilza, só os donos de comércio devem ter sentido a mudança, já que recentemente os próprios comerciantes a aconselharam a fazer as compras dos ingredientes e quitar só com o dinheiro. Mas, hoje, ao saber que a taxação era mentira, a autônoma afirmou que voltará a usar o Pix.
Subgerente de uma loja de cosméticos, Vanessa Alves, de 34 anos, conta que o público parou de usar o Pix. “Sim, a gente viu a diferença. As pessoas aqui costumam comprar nessa faixa de preço (mais de 100 reais)', explica.
Os produtos com mais saída, segundo ela, ligados à linha de cabelo são os mais caros e por essa razão muitos têm optado pelo parcelamento. Mas, no geral, independente da faixa de preço, os clientes têm comprado mais e pagado só no cartão.
A preferência só não bate com a forma de pagamento ideal dos lojistas que acham melhor receber em dinheiro ou no Pix, já que no crédito o empresário pode levar até 30 dias para receber o valor da compra na conta.
Na loja de maquiagens onde Camila Costa de Araújo, de 35 anos, trabalha, a maioria continua usando o cartão de débito para pagar as compras. Essa, segundo ela, sempre foi a escolha mais frequente dos clientes. “A gente tem bastante venda no débito e como são compras de menor valor, os clientes optam por essa forma de pagamento', completa.
Fake news - A AGU (Advocacia-Geral da União) encaminhou, nessa quarta-feira (15), ofício à Polícia Federal solicitando a abertura de um inquérito para investigar a disseminação de informações falsas e a prática de golpes relacionadas à suposta taxação do Pix.
Mesmo com o esclarecimento, a repercussão negativa levou à revogação da medida pela Receita Federal nesta quarta. O Executivo agora busca responsabilizar os responsáveis pela disseminação de notícias falsas, argumentando que a desinformação '[...] prejudica a legitimidade das instituições democráticas e o funcionamento do Estado de Direito'.