Após 1 ano, família da 1ª vítima covid ainda vive luto e tenta superar exposição

O trauma pela morte de Eleuzi Silva Nascimento virou rotina assim como as mais de 4,2 mil mortes depois

| TAINá JARA / CAMPO GRANDE NEWS


Mato Grosso do Sul registra mais de 4,2 mil mortes em um ano de pandemia (Foto: Paulo Francis-Arquivo)

Cada morte pela covid-19 carrega consigo um drama insuperável. Fazer parte da família da 1ª pessoa a morrer pela doença tão temida, e outrora algo tão distante, traz, no entanto, traumas mais difíceis de transpor. O dolorido luto vem com adicional do preconceito e da superexposição com os quais a família de Eleuzi Silva Nascimento tenta conviver um ano e 4.219 mortes depois.

Moradora do município de Batayporã, distante 313 quilômetros de Campo Grande, a idosa, de 64 anos, foi a primeira a ter a morte confirmada por covid-19, no Mato Grosso do Sul. O óbito revelou despreparo de vários setores em lidar com a situação de forma menos alarmante e mais sensível.

Sem querer aparecer, a família revela o descontentamento com a superexposição verificada na época. A crítica vai desde a postura dos profissionais de saúde, acusados de vazaram dados da vítima e de parentes mais próximos, até a imprensa, com a divulgação de imagens, por exemplo, do atendimento feito dentro do hospital, além do próprio rosto da mulher.

Os parentes que conseguiram sair ilesos e sobreviver à doença, tiveram de lidar com o escrutínio. O endereço divulgado para toda cidade deixou o isolamento necessário para quem teve contato com Eleuzi, ainda mais perturbador. “Nós fomos tratados com tanto desrespeito', relembra um dos familiares.

Na época, a Secretaria de Saúde divulgou que a moradora de Batayporã teve contato com duas irmãs que viajaram para a Bélgica. Elas não tinham sintomas da doença, mas, uma delas, também testou positivo para o coronavírus. Eleuzi foi diagnosticada com a doença no dia 24 de março. Ela tinha enfisema pulmonar, o que tornou o quadro ainda mais grave.

“A sensação é de enxugar gelo', desabafa prefeito

Quando a morte de Eleuzi por covid-19 foi confirmada, a cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, do leste do Estado, tinha apenas três casos confirmados da doença. Hoje são 551 registros desde o início da pandemia. Em número de mortes, o município ainda conseguiu manter o controle. Foram 11 até o momento.

O prefeito, Germino Roz (PSDB), reconhece os pontos positivos, mas não esconde o cansaço em relação a situação tão prolongada.

“Melhoramos no que diz respeito às medidas de biossegurança, porém o momento é de alerta devido a situação que vivemos. Há um ano a cidade estava fechada com medo do impacto danoso que a doença poderia causar nas vidas de nossa população. Um ano depois, cá estamos nós, com a cidade praticamente parada novamente. A sensação é de enxugar gelo'.

“A nossa esperança, de fato, é a vacina', afirma professor da UFMS

Na avaliação do doutor em infectologia e professor do curso de Enfermagem da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Everton Lemos, o afrouxamento das medidas de distanciamento social, adotadas no início da pandemia, em março do ano passado, contribuíram para chegarmos a situação de colapso na saúde verificada agora.

“Estamos no pior momento da pandemia em número de confirmações, óbitos, além da falta de leitos. A situação se agravou muito do ano passado para cá', pontua.

O professor lembra o número de contaminações se intensificou a partir de outubro de 2020. Até o momento, o Estado registra 213.869 e 4.220 óbitos. Ao mesmo tempo que 177 pessoas aguardam na fila por um leito em hospital, Mato Grosso do Sul é o primeiro estado do país e atingir os 10% de imunização.

“A medida que a imunização conseguir alcançar um número considerável, há possibilidade de reduzir a morte, como já ocorreu entre os idosos já vacinados. Não há, no entanto, como ter uma estimativa de quando vamos sair desta situação, afinal temos variantes importes que podem prolongar a pandemia. A nossa esperança, de fato, é a vacina', ressalta.



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