Após doar medula a menino turco, Vanessa foi conhecer vida que salvou
Salvando a vida de um garoto de 9 anos, ela agradece pela oportunidade de ter sido a doadora compatível; "faria tudo de novo", diz
| CAMPO GRANDE NEWS
A funcionária pública Vanessa Mansano Gonçalves Mori, de 44 anos, não imaginava que uma decisão de pouco mais de 5 anos atrás mudaria completamente o rumo da sua vida, mas também da vida de uma outra pessoa, distante mais de 10 mil quilômetros do Brasil. Na Turquia, o menino Mustafá, de apenas 9 anos, sofria com a doença da leucemia e, como última forma de tratamento, tinha esperança no transplante de medula óssea.
O vínculo 'de sangue' formado entre eles foi maior do que o resultado na folha de papel, em que registrava a compatibilidade de medula. Tanto é que ambos quiseram saber quem se tratava cada um. Sem pensar duas vezes, a brasileira Vanessa organizou uma viagem até a Turquia, cruzou o Atlântico e conheceu pessoalmente o jovem turquinho Mustafá. No encontro, emoção expressada em lágrimas, buquê de flores à ela e muito agradecimento da família. Quando chegou o momento do abraço, o calor de uma vida para a outra se mostrava firme e forte, de pé.
'A sensação é estranha ao mesmo tempo mágica. Eu olhava para o Mustafá – garoto lindo e cheio de vida – e pensava que meu sangue estava naquele seu corpo, e só foi por isso que ele estava ali respirando e de pé. É uma loucura! Deus usou a minha vida para salvar a dele, uma entrega e um sentimento sem igual', agradece Vanessa.
Natural de Lençóis Paulista, no interior do estado de São Paulo, Vanessa é campo-grandense de 'coração'. Navegando 'de bobeira' o Facebook, viu uma publicação de uma moça que – assim como ela – também é descendente 'mestiça' de japoneses. 'Pedia para quem puder fazer seu cadastro no banco de medula óssea, já que ela, Fabiana Ikeda, estava a procura de um compatível. Mas infelizmente pouco tempo depois veio a falecer, aos 38 anos', relembra.
Inspirada a ajudar, naquele mesmo dia Vanessa foi ao Hemosul se informar de como funcionava o processo. Após preencher papelada e ter sangue coletado, seu cadastro já estava pronto, fazendo parte então do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea).
Passado 1 ano, Vanessa recebeu uma correspondência em casa dizendo que sua medula era compatível com a de outro alguém. 'Fiquei muito surpresa! A gente sabe o quão difícil é esse processo. Desde o primeiro momento, já estava decidida a ir até o final', garantiu à época.
No dia seguinte, foi ao Hemosul e teve fez uma nova coleta de sangue. 'Foi uma longa espera até sair o resultado', diz. Mas eis que no 5º dia o seu telefone toca. 'Era o pessoal do Redome informando 100% de compatibilidade. Fiquei com o coração acelerado e feliz da vida!'.
Em 1 semana, os preparativos tiveram andamento. À convite do Redome, Vanessa foi encaminhada até um hospital em Barretos (SP), junto com um acompanhante de sua escolha. Foram o total de três idas até lá: a primeira para fazer exames gerais e checkups; a segunda vez para pegar os resultados; por fim, o tão esperado transplante.
'Eu parei minha vida, meus compromissos, tudo estava voltado para esse dia. Eu orando à Deus para que tudo corresse bem, estava até me cuidando mais do que o normal! Fui informada que o receptor já estava há 5 anos em tratamento de leucemia, sem sucesso. Eu era sua última esperança', considerou.
No processo, uma cláusula estipula que somente depois de 1 ano e meio após a cirurgia é que ambos doador e receptor poderiam descobrir a identidade de cada um – apenas se os dois quiserem. Mas Mustafá, menino turco de apenas 9 anos (na época da doação), natural cidade de Konya, distante 710 quilômetros da capital Istambul, quis conhecer Vanessa.
'Recebi as informações sobre ele, inclusive um número para contato. Mandei uma mensagem via WhatsApp. Não sabia falar nem inglês muito menos turco, então tive a ajudinha do Google Tradutor. Assim, fizemos uma ligação por vídeo e eu era puro choro! Nossa comunicação foi por somente gestos e olhares, emocionante', diz.
No vontade de conhecer Mustafá, Vanessa organizou uma viagem à Turquia – seu primeiro destino internacional. Já havia passado alguns anos após o processo, e o garoto agora já havia se tornado um jovem de 15 anos. Sobre o encontro, ela estava no hotel e foi recebida pela família do rapaz com um buquê de flores.
'Ele, sua mãe, o avô e a irmã vieram ao meu encontro. Não dá para explicar! Tudo que vivi veio à tona naquele momento. Choramos muito. A mãe dele só me abraçava e chorava! Fiquei 10 dias por lá, mas queria ter ficado mesmo uns bons 2 meses', brinca.
Para Vanessa, a despedida foi dolorosa pois ela sentiu um amor quase que 'de mãe' por Mustafá. 'Isso desde o primeiro momento. Tive que dizer um 'até breve', sem saber quando iria reencontrá-lo. Mas tenho certeza que Deus se encarregará de novas oportunidades'. E confirma: 'até hoje mantenho contato com ele. Faço parte da sua vida assim como ele da minha. Sou muito agradecida'.
Conforme Vanessa, 'feliz é aquele que tem e pode doar!'. Para ela, quem doa ganha tanto quanto quem recebe, e o fato de ter participado do processo do transplante a deixou uma pessoa muito mais feliz e grata com a vida. 'O autor de tudo isso foi Deus, ele opera milagres, basta apenas estarmos disponíveis', revela.
'E sempre sugiro: cadastrem-se também no banco de medula óssea. A cura de alguém pode estar dentro de você. Eu faria tudo de novo', finaliza.
O Hemosul de Campo Grande fica na avenida Fernando Corrêa da Costa, 1304 – Centro. Telefone para contato é o (67) 3312-1500. Neste período de pandemia, doações somente com agendamento marcado.
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